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sexta-feira, 2 de junho de 2017

UM DILEMA PARA O PT: Se as diretas não passam, o que fazer?


O 6º Congresso Nacional do PT, que começa hoje em Brasília, também foi atropelado pela conjuntura de aguda incerteza trazida pela delação da JBS, que transformou Michel Temer num presidente zumbi. 


Destinado a renovar a direção partidária e fixar balizas para o reencontro com seu projeto original, depois dos desvãos em que caiu após chegar ao poder, o congresso do PT será também forçado a discutir a posição que o partido tomará caso venha mesmo a ocorrer a eleição indireta do substituto de Temer. Lula já mandou recado: O PT deve ficar fora deste acordão das elites. Mesmo assim, os mais “pragmáticos” seguem conversando com os governistas sobre o assunto e acham que, não havendo diretas, o PT se isolaria se ficasse fora das negociações.


A queda de Temer virá, mais dia, menos dia. As articulações para a eleição indireta do substituto avançam no Congresso e uma parte da oposição, para além do PT, já discute com os atuais governistas sua participação na suposta eleição, o que ajudaria a legitimar o processo. A chapa Rodrigo Maia-Aldo Rebelo chegou mesmo a ser cogitada no encontro havido na terça-feira na casa do líder do PDT, Weverton Rocha, do qual participaram representantes do PDT, PSB e PC do B. Aos petistas, Lula mandou um recado claro esta semana: O PT não deve participar de convescotes e acordos para eleição indireta. O PT não deve legitimar nenhum colégio eleitoral. O PT deve insistir na aprovação da emenda pelas eleições diretas e apoiar decididamente os atos pró-diretas.

Apesar do recado de Lula, posições distintas convivem nas bancadas do PT. Os mais próximos de Lula fincam pé nas diretas, a exemplo da líder no Senado, Gleisi Hoffmann, e do senador Lindbergh Farias, que foi o relator da emenda do senador José Antonio Reguffe aprovada ontem na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Estes petistas, bem como os integrantes da Frente Parlamentar Mista pelas Diretas, filiados a outros partidos de esquerda, acham que ainda há tempo para a emenda avançar. Avaliam que, quando mais Temer durar no cargo, expondo as misérias de seu governo e realizando manobras cínicas para sobreviver, mais força irá ganhando o movimento na sociedade.

Mas existem os pragmáticos, que mesmo defendendo as diretas publicamente, admitem que a correlação de forças não promete um grande movimento de massas com força bastante para dobrar a maioria do Congresso e sensibilizar o próprio STF, que teria de chanceler a mudança da regra sem observância do prazo prévio de um ano. E por isso, acham que o PT deve dialogar com as outras forças políticos sobre a sucessão indireta de Temer, como vem fazendo, inclusive, o líder da bancada na Câmara, Carlos Zaratini. Ele tem conversado com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e com outros governistas sobre a hipótese da eleição indireta. Excluindo-se das negociações, dizem os pragmáticos, o PT estará isolado e enfraquecido no pós-Temer.

De algum modo, o PT está novamente na sinuca de bico que enfrentou em 1985, quando se recusou a participar do Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo e Sarney para encerrar a ditadura com um grande de elites. Alguns votaram em Tancredo, acreditando que esta era a obrigação dos democratas. Foram expulsos. Até hoje o PT paga por aquela decisão, assim como pela de não assinar o texto constitucional de 1988.

Rodrigo Maia segue defendendo a permanência de Temer no cargo mas hoje ele é, como dizem alguns deputados, “o Temer do Temer”. Ou seja, está no papel que Temer ocupava em relação a Dilma. Embora ele não herde o governo, em caso de afastamento, como ocorreu com Temer após o golpe do impeachment, Maia seria o maior beneficiário: ocuparia interinamente a presidência e levaria vantagem sobre outros candidatos à eleição indireta, disputando no cargo.

As apostas sobre a fórmula de remoção de Temer agora se deslocaram um pouco, do TSE para o próprio STF. No TSE, o processo pode alongar-se muito com as manobras e pedidas de vistas, estando Temer disposto a cometer todas as chicanas para ficar no cargo. Já o STF, em breve, vai lidar com a situação nunca antes ocorrida, de receber uma denúncia do procurador-geral da República contra um presidente no cargo. Se aceitar a denúncia, terá que afastar imediatamente Temer, como fez com Eduardo Cunha. Não aceitar será um suicídio histórico para uma suprema corte que já carrega o estigma de ter se omitido diante de um golpe parlamentar sob a forma de impeachment com desvio.

Por Tereza Cruvinel
Colunista do Brasil247, ex-folha, é uma das jornalistas mais respeitadas do país.

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