O ENCANTADOR DE SERPENTES

Wellington Dias conseguiu convencer até a oposição sobre a PEC do ajuste fiscal. Os deputados nem apareceram na votação

Encantar serpentes é a prática de hipnotiza-las apenas tocando um instrumento domando cobras venenosas. No Piauí, o governador Wellington Dias tem se mostrado astuto encantador de serpentes, seduzindo seus interlocutores, ainda que sejam os mais vorazes oposicionistas, para a aprovação dos projetos de seu interesse. A PEC do ajuste fiscal, batizada no plano federal de ‘PEC da Morte’, foi aprovada ontem pela Assembleia Legislativa com surpreendente facilidade. Os deputados governistas deram apoio integral, os da inexpressiva oposição se abstiveram (nem por lá apareceram) e os sindicalistas recuaram da greve geral, seduzidos pela conversa de pé de orelha que tiveram com o governador. Prova disso, ações que mais se pareciam de terroristas, da semana passada, ficaram para trás, e os confrontos entre deputados e sindicalistas foram resolvidos ou confinados além dos gradis que separaram os políticos do povo. Depois de retornar de viagem à Europa, o governador chamou para si a responsabilidade de aprovar a PEC. Deflagrou campanha midiática, conversou com lideranças sindicais e articulou com deputados governistas e de oposição. Como resultado do empenho pessoal do governador, a PEC do ajuste fiscal foi aprovada num só dia, longe do povo, que não pode sequer subir para as galerias do plenário do legislativo. Se conseguiu convencer oposição e sindicalistas, é de se esperar que o governador tenha a proeza de colocar em prática o projeto de corte de despesas a que se propôs. É de se acreditar que para o governador, um reconhecido encantador de serpentes, esta não será tarefa difícil. Basta colocar de lado os projetos pessoais, não se curvar às ambições dos politiqueiros ou às pressões das corporações de servidores e priorizar de fato os reais interesses do Piauí.

Por Arimatéia Azevedo