Por Arimatéia Azevedo
O dia de ontem foi marcado pela defesa pessoal da presidente afastada Dilma Rousseff, que compareceu ao Senado, e se submeteu às perguntas dos seus julgadores, no caso, os senadores, nem sempre oportunos ou claros quanto aos objetivos do questionamento. Surpreendentemente, a presidente se manteve firme em sua fala, e clara na formulação das ideias, no interrogatório que se seguiu, com o revezamento dos senadores na Tribuna. De fato, as duas grandes questões que levaram ao julgamento de Dilma foram exaustivamente abordadas, e enfrentadas com vigor pela defesa da presidente. De um lado, a acusação insiste em que houve expedição de decretos de suplementação orçamentária sem a devida autorização do Congresso Nacional. Além disso, haveria as verbas obtidas através de instituições financeiras públicas, com antecipação de receita, o que é vedado pela Constituição. Dilma, entretanto, conseguiu desconstruir o fundamento dessas teses, deixando bastante claro que o processo do impeachment é regular quanto à forma e respeito ao regramento próprio, o rito, em si. Mas insistiu na tese de que o processo acusador padece de legitimidade, na medida em que torna questionável o crime de responsabilidade, afinal imputado à Presidente. Para a grande massa, pode ter restado uma dúvida razoável, na medida em que não são obrigados a conhecer os meandros da economia e das leis. Mas, para os julgadores, todos eles cientes e conscientes de seus deveres constitucionais, o dever de um julgamento técnico, imparcial, poderia gerar dúvidas entre aqueles que não tinham uma posição firmada, seja pela procedência ou improcedência da denúncia. Contudo, pelos comentários que se seguiram aos debates, em entrevistas pela tv, os senadores deixaram muito claro que a fala da presidente Dilma em nada os tocou ou adiantou, no sentido de modificar algum voto. Já há juízo firmado. Pelo que se viu, assim, a expectativa é de que, ao longo do dia, ou nas primeiras horas de amanhã, o Senado tomará a sua decisão, de natureza política, e afastará definitivamente a Presidente da República. Em outras palavras, esta é a definição, no momento derradeiro, de um jogo em que as cartas já estavam previamente marcadas.
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